29 de agosto de 2024

O Desafio do Escalonamento na Produção de Líquidos Estéreis

Escalonar a produção de líquidos estéreis, especialmente no contexto de produtos parenterais, é uma tarefa de alta complexidade que exige uma compreensão detalhada dos processos de fabricação. Para garantir que a qualidade do produto final seja mantida do início ao fim, cada etapa do escalonamento deve ser meticulosamente planejada e executada. O que deve ser […]

 
 

Escalonar a produção de líquidos estéreis, especialmente no contexto de produtos parenterais, é uma tarefa de alta complexidade que exige uma compreensão detalhada dos processos de fabricação. Para garantir que a qualidade do produto final seja mantida do início ao fim, cada etapa do escalonamento deve ser meticulosamente planejada e executada.

O que deve ser avaliado para que o processo de escalonamento seja bem-sucedido?

Para assegurar o sucesso do escalonamento na produção de líquidos estéreis, é crucial considerar uma série de fatores essenciais:

  • Estrutura e Equipamentos do Pátio Fabril: Devem ser avaliados desde o início do planejamento, garantindo que sejam adequados para a produção em escala.
  • Atributos de Qualidade do Produto e dos Materiais: É necessário explorar extensivamente os atributos de qualidade do produto e dos materiais, além de considerar os inputs e outputs das operações unitárias e os parâmetros críticos de processo.
  • Correlação Produto x Materiais x Parâmetros do Processo: A correlação entre esses elementos deve ser cuidadosamente avaliada para assegurar a consistência e a qualidade do produto final.
  • Controles em Processo e Procedimentos: Incluem o fluxo de pessoas e materiais, documentação, receitas de equipamentos, media fill, entre outros aspectos essenciais para o controle do processo de fabricação.
  • Desenho de Protocolos de Testes: O protocolo de testes deve ser desenhado de forma racional, visando a criação de um processo de fabricação otimizado e eficiente.
  • Documentação durante o Desenvolvimento: Toda a documentação gerada deve ser registrada de maneira lógica, padronizada e rastreável, sendo fundamental para a gestão do conhecimento do produto ao longo de todo o seu ciclo de vida.

A Importância da Documentação

Um dos aspectos mais críticos para o sucesso do escalonamento é a gestão eficiente da documentação gerada durante o desenvolvimento. Todas as informações devem ser registradas de forma lógica, padronizada e rastreável. Esse cuidado é essencial para a gestão do conhecimento do produto ao longo do seu ciclo de vida, desde a fase de desenvolvimento até a produção em escala industrial.

Características dos Líquidos e seus Desafios

Diferentes tipos de líquidos apresentam desafios específicos durante o escalonamento. Por exemplo, líquidos newtonianos, que possuem viscosidade constante, tendem a apresentar um fluxo linear e previsível, facilitando a mistura e a transferência de calor de forma eficiente. Em contrapartida, líquidos não newtonianos com viscosidade variável, como suspensões, apresentam um fluxo não linear dependente da taxa de cisalhamento, o que pode resultar em dificuldades na distribuição homogênea do calor e na manutenção da homogeneidade da mistura.

Além disso, suspensões, que são sólidos dispersos em um líquido, estão suscetíveis à sedimentação, o que pode comprometer a uniformidade do produto final. Esses desafios requerem ajustes precisos nas operações unitárias de mistura e aquecimento para garantir que o produto final atenda a todos os padrões de qualidade exigidos.

Avaliações Técnicas no Escalonamento de Líquidos Estéreis

O processo de escalonamento na produção de líquidos estéreis é intrinsecamente complexo, demandando uma série de avaliações técnicas detalhadas para garantir que o produto final mantenha os padrões de qualidade esperados. Entre os aspectos que devem ser considerados, destacam-se:

  • Geometria de Similaridade: Assegurar que a dinâmica do fluido e a transferência de calor sejam consistentes entre as escalas é fundamental para manter a qualidade do produto.
  • Análise Dimensional: Identificar e correlacionar variáveis críticas do processo, como velocidade de agitação, taxa de cisalhamento, viscosidade e densidade, permite uma caracterização precisa do comportamento dos fluidos e das transferências de calor e massa.
  • Método da Escala de Agitação: Adotar uma escala de agitação que assegure velocidades de fluido equivalentes em diferentes tamanhos de tanque é crucial para evitar inconsistências na mistura.
  • Testes de Velocidade: Avaliar o impacto do fluxo do produto em tubulações, válvulas e bombas, além de calcular e ajustar a velocidade do eixo do misturador, são etapas importantes para garantir a eficiência do processo.
  • Avaliação dos Parâmetros Críticos do Processo: Monitorar continuamente parâmetros como temperatura, pH, concentração de ingredientes ativos, taxa de mistura e tempo de residência é essencial para garantir que o produto final atenda a todos os requisitos de qualidade.

Essas avaliações técnicas são fundamentais para manter a qualidade do produto, mesmo quando a produção é ampliada para atender à demanda em larga escala.

Monitoramento e Controle no Escalonamento

Além das avaliações técnicas, o sucesso do escalonamento depende de estratégias robustas de monitoramento e controle. Os Parâmetros Críticos de Processo (CPPs) devem ser mantidos dentro de limites aceitáveis para garantir a qualidade e a segurança dos medicamentos. Algumas das principais estratégias incluem:

  • Sistemas PAT: Tecnologias de Análise de Processo (Process Analytical Technology) são utilizadas para monitorar em tempo real os parâmetros críticos, permitindo ajustes imediatos quando necessário.
  • Validação de Processos: Garantir que todos os processos estejam validados é crucial para assegurar que o produto final seja consistente e seguro.
  • Automação de Receitas: A automação de processos, incluindo a gestão de receitas e a execução de procedimentos, minimiza o risco de erro humano e aumenta a eficiência.
  • Controles em Processo: O monitoramento contínuo durante a produção garante que qualquer desvio nos parâmetros críticos seja rapidamente identificado e corrigido.

Essas estratégias de controle são essenciais para gerenciar a variabilidade no processo, assegurando que o produto final entregue ao paciente seja seguro e eficaz.

Elaborado por: Patrícia Lanzi Sassaki